A Bioconstrução
Todo projeto foca no máximo aproveitamento dos recursos disponíveis com o mínimo de impacto.O tratamento e reaproveitamento de resíduos, coleta de águas pluviais, uso de fontes de energia renováveis e não-poluentes, aproveitamento máximo da iluminação e da ventilação naturais em detrimento das artificiais, são exemplos de preocupações na concepção desses projetos.
A residência nas bioconstruções também segue a filosofia de responsabilidade ambiental dos seus ocupantes.A bioconstrução não se resume à construção em si, mas pode incluir os materiais e o processo de produção da mobília, o uso de agentes biológicos para prover condições de habitação, como no caso dos telhados verdes, e o estilo de vida proposto pela arquitetura dos ambientes, esses recursos são utilizados geralmente com materiais encontrados nas áreas onde se faz a bioconstrução.
A Alpendre Bioconstrução nasceu dessa proposta de arquitetura que vai muito alem da arquitetura em si, pois ela envolve história, ancestralidade, modo de vida e de consumo e, principalmente, a humanidade das coisas e nas coisas, dando um sentido à nossa existência.
O desafio permanente é estar em sintonia com o universo e consequentemente com a natureza.
Nasce a casa viva
O Terreno
O terreno apresentava um declive de aproximadamente 1 mt. da rua para o fundo ao longo dos seus 30mts. de comprimento. Na largura, de 12 mts, o declive era de aproximadamente 50 cm da esquerda para a direita (terreno visto a partir da rua). Posicionamos o corpo principal da casa medindo 12 x 6mts. com recuos de: 3mts da divisa dos fundos, 1,5 mts da divisa lateral esquerda e 15 mts. da frente.
O Projeto
Basicamente três fatores determinaram a concepção do projeto.
1o.Fator: Os materiais disponíveis
Praticamente 90% dos materiais básicos de que disponhamos resultaram de demolições que realizamos na região. Madeiras de lei como a Canela de Grota, o Ipê, o Angico e a Arueira, apesar de apresentarem suas camadas externas corroídas por fungos e cupins, o seu cerne permanecia intato. Além dessas madeiras de lei também obtivemos uma razoável quantidade de postes e vigas de eucalipto reaproveitados a partir de restos de uma obra de linha de transmissão que passou pela região.
O terreno apresentava um declive de aproximadamente 1 mt. da rua para o fundo ao longo dos seus 30mts. de comprimento. Na largura, de 12 mts, o declive era de aproximadamente 50 cm da esquerda para a direita (terreno visto a partir da rua). Posicionamos o corpo principal da casa medindo 12 x 6mts. com recuos de: 3mts da divisa dos fundos, 1,5 mts da divisa lateral esquerda e 15 mts. da frente.
Vista do terreno a partir da rua |
O Projeto
Basicamente três fatores determinaram a concepção do projeto.
1o.Fator: Os materiais disponíveis
Praticamente 90% dos materiais básicos de que disponhamos resultaram de demolições que realizamos na região. Madeiras de lei como a Canela de Grota, o Ipê, o Angico e a Arueira, apesar de apresentarem suas camadas externas corroídas por fungos e cupins, o seu cerne permanecia intato. Além dessas madeiras de lei também obtivemos uma razoável quantidade de postes e vigas de eucalipto reaproveitados a partir de restos de uma obra de linha de transmissão que passou pela região.
As telhas coloniais cerâmicas, também provenientes das demolições, tinham diferentes tamanhos, formatos, cores e texturas: dispúnhamos desde as tradicionais e seculares "feitas nas coxas"
até telhas industrializadas, fabricadas por cerâmicas da região na década de 70 do século passado.
Os adobes, mais de 2 mil, foram obtidos a partir de paredes de antigas casas e galpões e também apresentavam diferentes tamanhos, formatos, cores e texturas. Alguns haviam sido produzidos havia 80 anos aproximadamente.
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Empilhamento dos adobes de demolição |
2o. Fator: A funcionalidade
"No Goiás", como se diz, a gente entra pela varanda, se reúne na cozinha, raramente se chega à sala e só usa o quarto à noite para dormir. Respeitando este costume, essa foi a ordem hierárquica de distribuição dos cômodos a partir da entrada.
3o. Fator: A necessidade
Como somos apenas duas pessoas, nossa necessidade básica era de apenas 1 quarto, 1 sala, 1 banheiro e 1 cozinha além da varanda, é claro. Tudo isso com dimensões mínimas, necessárias e suficientes para proporcionar conforto, aconchego e bem estar, dentro de um orçamento bem reduzido.
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Planta baixa do projeto original |
O Alicerce
Como já foi dito, tínhamos a necessidade de superar o declive de quase 1 mt. do fundo do terreno em relação ao nível da rua para que a casa não sofresse as terríveis consequências de uma eventual inundação. Por isso o alicerce foi nivelado no fundo da casa a 1,20 mt acima do referido nível, chegando à frente com aproximadamente 50cm. de altura.
No lugar onde seriam afixados os 12 pilares mestres de sustentação da casa foram feitas brocas de 1 mt de fundura em relação ao nível do terreno, com 30 cm. de diâmetro, preenchidas com ferragem armada e "concreto crioulo" a base de 1 saco de cimento para 1 carrinho de areia e 3 carrinhos de cascalho saibroso. Unindo as 12 brocas foi feita uma cinta com 2 ferros 5/16 em paralelo, amarrados nas colunas de sustentação, encravadas no solo a 20 cm. de profundidade, com 30 cm. de largura. Essa também seria a largura do alicerce que viria a seguir sobre essa cinta.
Usando como forma, tábuas de 30 cm. de largura de ambos os lados, afixadas com sarrafos de 5 cm firmemente encravados no solo a uma distância de 50 cm. um do outro, o alicerce foi preenchido com uma farofa composta por 1/2 saco de cimento para três carrinhos de cascalho saibroso umedecido.
A aplicação dessa farofa foi feita com base no conhecimento ancestral da Taipa de Pilão, na qual cada subcamada de aproximadamente 10 cm. do material é fortemente socada, com um soquete de ferro de aproximadamente 10 kg., até compactar totalmente. Depois de preenchida toda a extensão do alicerce retornamos ao ponto inicial e subimos as formas para levantarmos mais uma camada de 30 cm. e assim sucessivamente até atingirmos o nível final desejado, sempre respeitando um tempo mínimo de cura de 1 dia entre a aplicação de uma camada e outra.
Na metade da altura do alicerce foi colocada mais uma cinta com 2 ferros 5/16 em paralelo, repetindo-a na camada final, totalizando 3 cintas de amarração.
Sobre esse alicerce de taipa foram assentadas três camadas de pedras de Pirenópolis, descartadas pelas pedreiras , o chamado "lixo das pedreiras" que tanto poluem o ambiente da região. O objetivo desse procedimento foi criar uma camada de impermeabilização evitando que a umidade do solo suba por capilaridade pelas futuras paredes de adobe. As pedras foram assentadas com uma argamassa de 1/2 saco de cimento para três carrinhos de areia saibrosa.
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O alicerce de feito de Taipa de Pilão com a camada de impermeabilização de pedra de Pirenópolis |
O alicerce depois de pronto e devidamente curado, foi preenchido com cascalho e compactado por uma máquina retroescavadeira de 40 toneladas que, passando inclusive o mais rente possível às suas paredes, comprovou sua resistência.
No ponto onde seriam afixados os pilares mestres de madeira foram deixadas esperas de 20 cm de ferro 3/8, concretadas junto com a ferragem das colunas do alicerce, que provinham do fundo das brocas.
Sobre o aterro já compactado, foram demarcadas as bases das paredes divisórias internas e assentada uma camada das mesmas pedras de Pirenópolis.
A casa agora estava pronta para começar "a sair do chão".
Plantando as colunas de madeira e a estrutura do telhado
Os pilares de madeira (angico) medindo 3mts. x15 x15cm. foram encaixados nas esperas de ferro 3/8 que provinham das brocas concretadas. Seu travamento provisório, após serem devidamente aprumados, foi feito com sarrafos de 10x2,5cm. Sobre eles, as vigas transversais foram encaixadas e parafusadas com parafusos franceses. Terminado o travamento foi a vez dos pontaletes que sustentariam: a cumieira, dividindo o telhado em 2 águas e as terças para sustentação dos caibros.
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A estrutura de madeira plantada sobre o alicerce |
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O travamento do telhado |
Montando a "Espinha de Peixe"
O sistema de encaibramento adotado foi do tipo "Espinha de Peixe". Eles distanciam-se cerca de 14cm um do outro formando uma espécie de cama onde as telhas coloniais cerâmicas de diferentes padrões vão se deitando umas sobre as outras sem o uso de ripas. Optamos por essa forma por ela não exigir o rigor determinado para o madeiramento convencional de caibros e ripas para fixação das telhas que necessariamente devem ter a mesma bitola e portanto serem do mesmo fabricante, modelo e forma.
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A estrutura original da casa com o telhado pronto para receber as telhas |
Depois de coberta a estrutura era hora de começar o fechamento das paredes.
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A cobertura da casa |
Foi então que percebemos que alguns dos espaços previstos no projeto original não atenderiam totalmente nossas necessidades. Foram feitas alterações aumentando o tamanho da sala de 4 x 3 mt. para 4 x 4,8 mt., e o banheiro de 2,5 x 2,00 mt para 2,5x 3 mt., alem de incluir um banheiro social. Feito isso surgiu a necessidade de criarmos uma área coberta para acesso aos fundos da casa onde futuramente seria instalada uma lavanderia. Foi aí que buscamos uma solução na ancestralidade de nossa arquitetura colonial , surgiu o alpendre, incorporado às varandas.
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planta baixa da 2a. etapa da obra |
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